O curso de Medicina da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), no campus de Caxias, está sob ameaça real de descredenciamento após receber nota 1 no Conceito Preliminar de Curso (CPC) — a pontuação mais baixa possível em uma escala que vai de 1 a 5, segundo avaliação do Ministério da Educação (MEC). O resultado, divulgado recentemente, evidencia uma série de problemas estruturais e pedagógicos que afetam diretamente a qualidade da formação médica no interior do Maranhão.
Essa nota crítica coloca o curso entre os piores do país e pode acarretar graves prejuízos educacionais, sociais e econômicos para toda a região dos Cocais, que depende da formação de novos profissionais da saúde para suprir uma demanda histórica por atendimento médico qualificado.
O Conceito Preliminar de Curso (CPC) é um dos principais indicadores utilizados pelo MEC para aferir a qualidade dos cursos superiores no Brasil. Ele considera uma média ponderada entre fatores como:
Desempenho dos alunos no Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes);
Infraestrutura da instituição;
Qualificação do corpo docente;
Projeto pedagógico do curso.
Receber nota 1 no CPC indica falhas graves em uma ou mais dessas dimensões e, conforme a legislação vigente, o curso pode ser suspenso ou fechado caso não apresente melhorias concretas em curto prazo.
A baixa nota do curso de Medicina em Caxias reflete um cenário preocupante que vai além das provas do Enade. De acordo com relatos da comunidade acadêmica e informações apuradas, os seguintes pontos críticos foram determinantes para o resultado negativo:
O curso funciona em prédios improvisados, com falta de laboratórios bem equipados, biblioteca limitada e ausência de equipamentos básicos. A construção de um prédio próprio, prometido para 2022, está abandonada há anos, o que agrava ainda mais a situação.
Embora existam professores qualificados e comprometidos, o número de docentes efetivos é pequeno. A maioria das disciplinas é ministrada por profissionais contratados temporariamente, o que compromete a continuidade e qualidade do ensino.
Apesar de contar com um projeto pedagógico sólido, o curso enfrenta dificuldades de aplicá-lo plenamente devido à carência de apoio institucional e estrutura física.
Alunos relatam que é injusto exigir alto desempenho em avaliações nacionais sem oferecer as mínimas condições para estudo e prática. Ainda assim, muitos seguem se esforçando para honrar a profissão.
Caso ocorra uma visita in loco do MEC, o risco de descredenciamento se torna ainda mais real, já que a situação atual pode ser confirmada oficialmente.
Diante do risco de fechamento, estudantes procuraram o deputado estadual Catulé Júnior, que se reuniu com o reitor da UEMA, Walter Canales. Em resposta, o reitor apresentou um plano de ação emergencial para reverter a nota baixa e evitar o descredenciamento.
Como medida de apoio, Catulé Júnior protocolou um requerimento solicitando uma audiência pública com representantes da universidade, do Governo do Estado, da comunidade acadêmica e da sociedade civil. O objetivo é discutir soluções concretas e imediatas que garantam a manutenção e o fortalecimento do curso.
O presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Maranhão, deputado Arnaldo Melo (PP), declarou total apoio à causa e afirmou que é papel do Parlamento defender a qualidade do ensino superior no estado.
O encerramento do curso de Medicina da UEMA em Caxias representaria um retrocesso sem precedentes. A cidade deixaria de formar médicos para atender não só a região, mas também outras áreas do Maranhão que sofrem com a falta crônica de profissionais de saúde. Além disso, haveria um impacto direto na economia local, que gira em torno da presença universitária.
O curso de Medicina da UEMA em Caxias está sobrevivendo à base da resistência de estudantes, professores e servidores, mas a dignidade da educação pública exige mais do que esforço individual. É preciso comprometimento efetivo do Governo do Estado do Maranhão para garantir o mínimo de estrutura, respeito e valorização ao ensino superior.