Caxias E
Caxias e a perda de seu protagonismo estratégico
Como o anúncio inicial de obras em aeródromos de 10 cidades no interior demonstra o quando Caxias vem caindo de importância para o Maranhão, mesmo com acordo político a recolocando depois.
16/05/2025 12h35
Por: Eziquio Barros
Imagem: Arthur Costa/SEINC-MA

No final do mês de março o governador Carlos Brandão (PSB) assinou ordem de serviço para a “revitalização da infraestrutura aeroportuária do estado”, conforme anunciou o site do Governo do Estado, de 10 aeroportos e aeródromos existentes. A obra tem por finalidade, conforme o governador, de “modernizar e ampliar” aeroportos regionais, onde o objetivo é facilitar o transporte de urgência e emergência médica, e ainda, auxiliar no desenvolvimento econômico focando o turismo e agronegócio. As dez cidades selecionadas estrategicamente para esses fins foram: Alto Parnaíba, Carolina, Balsas, Pinheiro, Carutapera, Santa Inês, Barra do Corda, Bacabal, Barreirinhas e Colinas.

Se contarmos com grandes e médias cidades maranhenses que ficaram de fora por não precisarem dessa intervenção de melhorias, como São Luís, Imperatriz e Timon (esta última inserida na RIDE de Teresina-PI), Caxias não está entre as 13 cidades de importância para o Maranhão.

Mesmo com a chegada no agronegócio no Maranhão e sua expansão chegando no território caxiense, esse momento parece não ter encontrado aqui no município um ponto referencial no macrozoneamento no leste maranhense. Uma vez que o aeródromo facilitaria abertura e expansão de novos negócios nesta área causando impacto nas demais.

No quesito geografia e infraestrutura, Caxias está em posição excelente. O município conta com duas rodovias federais (BR-316 e 226), três rodovias estaduais (MA 034, 127 e 349), dois rios navegáveis (Itapecuru e Parnaíba) e, talvez um dos mais importantes, mas muito inutilizada, uma linha férrea interligando parte do Nordeste ao Porto do Itaqui, em São Luís. Isso não fora relevante na decisão que selecionou as dez cidades que incluiu municípios menores em PIB, população e território.

Mas um mês depois do anúncio a coisa mudou. Com a vinda do governador a Caxias, ocorrida no dia 08 de abril, ele afirmou que a cidade também seria inserida na lista de beneficiadas com a obra. A justificativa seria de que não tinha terreno para um aeroporto, mas após a doação de uma área pela prefeitura municipal, veio a inclusão.

A segunda cidade maranhense a ter um aeroporto e que por décadas fora a 2ª cidade mais importante do estado, ficou de fora por não ter um terreno? Não creio. Essa inserção parece ter vindo dos conhecidos acordos ou pressão nos bastidores políticos e não por uma importância estratégica.

Isso não é surpresa para que estuda, pesquisa e acompanha a cidade nos últimos anos. Desde a década de 1970, com a expansão desenvolvimentista para a região oeste do estado, principalmente impulsionada pela construção da BR Belém-Brasília (BR-010) e a expansão da malha rodoviária maranhense, Imperatriz tomou a posição como segunda cidade, tanto economicamente quanto de população. Caxias não conseguiu realizar um planejamento de reestruturação econômica, permanecendo em um marasmo sociopolítico que enfraqueceu o pouco que já tinha. O início do século XXI foi ainda pior. Assistimos as cidades vizinhas alavancarem um desenvolvimento ofuscando um possível protagonismo no leste maranhense, vide Timon.

Em menos de 100 anos, Caxias caiu da 2ª posição para a 10ª, no ranking dos maiores PIB per capita do Maranhão. Em número de população igualmente, de 2ª, caímos para 10ª (Dados do IBGE). E sem perspectivas de mudança a tendencia, infelizmente, é cair ainda mais.

Os dados demonstram mais do que o enfraquecimento do protagonismo de Caxias no Maranhão. Representam a falta de um planejamento estratégico municipal de longo prazo por parte de nossos gestores.

É claro que o papel de nossos gestores é, entre tantas, viabilizar negócios e infraestruturas para seus municípios em busca de desenvolvimento. E isso se dá também por articulações políticas. Mas esse não foi o caso aqui. A viabilidade técnica nos deixou de fora e um “empurrão político” foi necessário para reverter a situação. Viver sempre de favores não é uma estratégia muito eficiente.    

O avião decolou sem uma poltrona para o caxiense que depois entrou pela janela.