Fortaleza, 6 de maio de 2025 – O ex-ministro e ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) deu mais um passo rumo a uma possível aliança com setores bolsonaristas no estado, em um movimento que pode reconfigurar o cenário político local antes das eleições de 2026. Nesta terça-feira (6), Ciro se reuniu com lideranças do PL, União Brasil e Progressistas e elogiou publicamente o deputado estadual Alcides Fernandes (PL), pai do bolsonarista André Fernandes (PL-CE), sinalizando uma convergência contra o PT.
Durante o encontro na Assembleia Legislativa do Ceará, Ciro evitou confirmar se será candidato ao governo do estado, mas deixou claro que não se eximirá de um "papel político" caso seja necessário. “Alguns amigos muito generosos lembram o meu nome, que não pretendo mais ser candidato a nada. Mas, à luz dessa salvação do Ceará, eu não posso me eximir de cumprir o papel”, declarou.
Ciro destacou Alcides Fernandes como uma figura com “todos os dotes e qualificações” para concorrer ao Senado em 2026, contrastando-o com possíveis adversários petistas, que classificou como “folha corrida”. “O Alcides salta longe como homem decente, como uma pessoa nova na política, homem de fé, homem de testemunho”, afirmou.
Apesar do discurso de união, há obstáculos internos: o PDT ainda não abriu mão de lançar o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio como candidato ao governo. Cláudio já recebeu “carta branca” do partido para negociar alianças, inclusive com a direita, mas a preferência do PDT é liderar a chapa majoritária no estado.
Em meio às articulações, Ciro também comentou a relação conturbada com o irmão, o senador Cid Gomes (PSB), que recentemente afirmou não querer se opor a ele no plano nacional. No entanto, Ciro foi crítico ao chamar Cid de “cúmplice” do governo petista de Elmano de Freitas no Ceará.
“Deus tirou das minhas costas a dor lancinante de uma facada nas minhas costas. Entretanto, eu vejo, fria e geladamente, o senador Cid como conivente dessa tragédia que está acontecendo no Ceará”, disse.
A ruptura entre os irmãos começou em 2022, quando Cid apoiou Lula e se alinhou ao governo federal, enquanto Ciro manteve firme oposição ao PT. A saída de Cid do PDT para o PSB em 2024 aprofundou a divisão entre “cidistas” e “ciristas” na política cearense.
A aproximação de Ciro com bolsonaristas indica uma estratégia para consolidar uma frente ampla contra o PT no Ceará, embora ainda haja disputas internas no PDT. Se confirmada a aliança, o estado pode se tornar um dos principais palcos de polarização entre centro-direita e esquerda no Nordeste.
Enquanto isso, o governador Elmano de Freitas (PT) se prepara para a reeleição, contando com o apoio de Cid Gomes e da base lulista. O cenário promete acirramento, com Ciro buscando reerguer sua influência e os bolsonaristas ampliando sua penetração no estado.